E cá estamos nós de novo.   Dessacralizando o que a mídia considera sagrado. Cabeça exposta às   pedradas. Mas com a satisfação do dever cumprido... NUNCA SEGUIR O   REBANHO! Eis a historinha de hoje:
Agenor   nasceu rico. Muito rico. Nasceu e cresceu no Leblon, passava férias na   Europa desde criança. Seu contato com a realidade (ou seja, a pobreza)   se dava pelos vidros escurecidos do carro em que o motorista da  família o  levava ao burguesíssimo Colégio Santo Inácio. Ali pelos  meados de 1976,  ganhou um carro zero do papai megaempresário por ter  realizado a  façanha de passar no dificílimo vestibular para  Comunicação. Carro na  mão, mesada no bolso, largou tudo e foi atrás da  "galera do mal" do  baixo Leblon. Envolvido com as substâncias  "perigosas", papai preocupado  o colocou para trabalhar como boy de luxo  em sua empresa. Mas, ainda  sem destino, foi enviado para San Francisco  para fazer um curso de  fotografia. Ato seguinte, voltou ao país natal  (Rio) e, sem o menor  perrengue graças ao paitrocínio, começou a se  envolver seriamente com  música e teatro.
Aí entra pra uma banda e papai, "relutantemente", acaba produzindo seu sucesso e o lançando aos píncaros do estrelato. 
Seria   a história de um Sidarta moderno se ele tivesse abandonado tudo e ido   viver com a gente real, o povo de verdade que sustenta o topo da   pirâmide social, e de seu suor e lágrimas cria a música mais autêntica   que um país pode ter.
Mas Agenor preferiu pescar no seguro aquário do conformismo. Vivendo, como ele mesmo dizia, o Grand Monde,   frequentando os frequentadores das colunas sociais em festas regadas a   todos os excessos que só são permitidos quando se pode comprar o establishment,   começou a fazer seu nome em divagações de protesto social, denúncia  das  desigualdades e palavras que, ditas por um autêntico proletário,  até  pareceriam verossímeis.
Entre   um teco e outro, Agenor tinha devaneios de um mundo justo. Um mundo   onde as pessoas pudessem ter o que ele tinha - sem que ele próprio   tivesse que abrir mão da sua parte. Uma redistribuição da renda "dos   outros", um moralismo da burguesia amoral, uma "ideologia" tortuosa,   moldada nos bares e redutos da altíssima sociedade carioca, entre quilos   de drogas trazidas dos guetos, do submundo onde jamais colocou os pés,   onde a miséria molda a criminalidade, e o crime sustenta o vício dos   riquinhos, levando as "substâncias do mal" diretamente às portas de seus   condomínios de luxo. 
 Viveu no excesso, morreu pelo excesso. Aos 32 anos, sucumbiu às complicações decorrentes da AIDS. E aí fez-se o turning point de   sua história. Martirizado em público, exibido (e explorado) em   programas de TV com seu corpo encarquilhado, fragilizado e já sem   qualquer vitalidade, teve sua obra definitivamente consagrada. Foi   alçado ao panteão dos "grandes poetas da MPB", e hoje é figura dogmática   da crítica musical.
Cazuza   foi um jovem rico, mimado, protegido, que - de dentro de sua bolha   hermética no alto do castelo da corrompida e conivente high society   brasileira, pretendeu cantar o mundo que via lá embaixo, na miséria.   Foi mais nobre que Maria Antonieta, mas não pode ser colocado no mesmo   pedestal de um Cartola. Dotado de boa cultura, colhida em excelentes   escolas, era um razoável letrista - fato que pode ser notado apesar das   musiquinhas fáceis que fazia pra tocar nas FMs. Mas dificilmente teria   tantos "admiradores", tivesse ele nascido no mundo que tentou cantar,  ao  invés da piscina cheia de ratos que é o mundo dos tubarões da  música, onde nasceu e foi criado...
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| Com papai "dono" da Som Livre, bolando uma ideologia pra viver... | 
música para reflexão: "Know your Enemy", do Rage Against the Machine.
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5 comentários:
Oi! Cheguei aqui por causa da Mel. Gostei do seu blog!
Sabe, interessante o seu post porque nesses últimos dias tenho pensado em coisas que tem relação. Graças a bolsas de estudo e ao sacrifício da minha família, tive a oportunidade de estudar numa universidade famosa aqui do Rio (aquela da Gávea) e vi muitos, mas muitos "cazuzas" por lá. É o tal do "QI" (Quem Indica). Impressionante. Quanto ao "verdadeiro", sempre achei muito "meh", realmente não entendo essa adoração toda.
Bem, escrevi mais do que pretendia, parabéns pelo blog, gostei das 'músicas para reflexão'.
Lalá - o que "ainda" equilibra a balança é que, para cada cazuza, tem alguns como você.
Parabéns pela batalha. Never give up!
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Adorei, realmente playba, mas apesar de tudo era um bom letrista e claro que não chega aos pés do Cartola.
Finalmente achei alguém que não idolatra esse playboy de m*. Sempre achei isso que tu falou, fácil cantar a piscina cheia de ratos, difícil é admitir que você é um deles e nunca fez p* nenhum em prol dos outros. Abraço. (mais uma mocinha que veio do blog da Mel =)
p*, esse blog é foda, só falta a galera certa descobrir.
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