quinta-feira, 19 de abril de 2012

Calvin...

Calvin não é um moleque de 6 anos.
É um ser único, pensante e alerta, forçado a viver em um mundo onde todos são mais estúpidos que ele - e ser tratado como... um moleque de 6 anos.
Sua cabeça fervilha com grandes questionamentos, mas nenhum adulto tem respostas para as suas questões. Em vez disso, tem que seguir regras de horários, comportamentos e proibições.
Não é à toa que seu amigo, consciência, e até mesmo antagonista, é um inocente tigre de pelúcia que, longe dos olhares do mundo estúpido, transforma-se em seu companheiro para tudo. Calvin quer experimentar e se arriscar, mas Haroldo insiste em tentar colocar "juízo" na cabeça do moleque.
Em um mundo cheio de pseudo-intelectualóides desprezíveis, verdades científicas que são desmentidas a cada dia, e dogmas fantasiosos que não fazem o menor sentido... quem é o sábio, afinal?!?

Se o Haroldo se concentrasse na emoção da brincadeira, saberia que no fim tudo acaba bem, e que toda preocupação é exagerada para uma vida tão absurdamente curta...







música para reflexão:  "Analog Kid", do RUSH.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O gigante feioso no mundo das pessoas sem defeitos...

O quanto você é "enquadrado" no mundo em que vive? 
Você chama atenção por ser "diferente", ou circula tranquilamente em qualquer ambiente, invisível e imperceptível?
Mais do que tudo isso, o que você prefere? Ser mais um no rebanho, mais uma zebra naquele monobloco de branco e preto que pasta monotonamente ... ou é dos que ousam, os "desajustados" que são apontados aos risos nos corredores das escolas, ignorados por não se parecerem com o playboy coxinha ou a piriguete marombada?
O que você tem que incomoda o "mundinho normal"? Sua aparência, seu cabelo, seu peso, seu gosto musical, sua sexualidade, seus hábitos excêntricos, sua repulsa pelo que a mídia vende como "must have" ou "must be"... qual o seu "defeito", afinal?!?
Peter Thomas Ratajczyk era mais um desses meninos que vieram ao mundo para serem zoados. Filho de uma miscelânea de etnias, único menino em uma família de outras 5 irmãs, classe trabalhadora, pai veterano de guerra cheio de traumas e problemas e - horror dos enquadrados - feio! Muito feio, esquisito, dono de uma cara vampiresca, e com mais de 2 metros de altura antes mesmo de sair da adolescência.
Sim, essa é uma história requentada. Você já viu milhares iguais na sessão da tarde, nos livrinhos juvenis, e até nos malditos enroladores que vendem auto-ajuda.

Só que a saga começa de fato quando o feioso transforma-se em PETER STEELE. Trabalhador braçal, começou a aprender guitarra, e se descobriu não como um desajustado, mas como um visionário, por assim dizer. Sua voz grave era ideal para o estilo de Rock que florescia na década de 80, algo meio gótico, meio doom. Migrar para o baixo foi a solução mais óbvia, e adotar o visual que transformou sua feiúra em... figurino.
Bandinha vem, bandinha vai, Peter formou o "TYPE O NEGATIVE", e criou definitivamente um novo eu. O jeito assustador, sempre realçado com caretas, caninos postiços ou algum outro adereço vampiresco, virou um ímã não apenas de outros desajustados, mas da nova safra de boys and girls que começavam a se fascinar com a atração do "lado escuro", a filosofia dark, o culto ao feio, ao sombrio, ao macabro.
Steele não apenas virou um ícone dessa galera, mas também atraiu a atenção geral para seus próprios problemas. Somente após ter afundado com os dois pés na coca e na birita, veio descobrir que sofria de distúrbios psicológicos sérios, incluindo aí transtorno bipolar e uma forma clinicamente grave de depressão. Depois de muita paulada na mufa, acabou percebendo que sua personalidade não era apenas fruto do meio, dos acontecimentos ruins e do esculacho dos coleguinhas. Algo dentro dele estava precisando de reparos.
Junto com o sucesso dos álbuns, ele foi mudando certos hábitos. Começou a cuidar direito do corpo, tanto quanto da mente. Passou a se ver como "uma pessoa passível de ser admirada, e até desejada", e explorou essa vertente - chegando a posar para a revista "Playgirl" (!!!).Uma decisão sacana da qual quase chegou a se arrepender tempos depois, mas que só ajudou a cristalizar seu nome como um daqueles "misfits" que a sociedade tanto detesta (já que tanto teme!). A verdade era que todo mundo se assustava não com a aparência de Peter, mas com sua educação, gentileza, cultura, e como era acessível, simples e cordial com todo mundo que chegava perto. Esse era seu verdadeiro superpoder!
Estava num rumo firme. Até passou a flertar com a igreja, em busca de respostas que o mundo imundo não lhe dava. Ironicamente, estava no auge da saúde, do autocontrole e da aceitação das dificuldades, quando o coração falhou feio, e Peter Steele deixou o planeta aos 48 anos de idade, em 14 de abril de 2010, vítima de um ordinário ataque cardíaco....

Dois anos depois de sua morte, resolvi apresentar essa figuraça para os que ainda não conheciam. Isso porque eu gosto de mostrar pra todo mundo as coisas e pessoas que me fazem pensar - e esse cara me fez refletir sobre muitas coisas - lá nos idos de 2003, quando eu ouvi o "Life is Killing Me". Muito do que ele grunhia nas letras me pareceu familiar, e de certo modo era um alívio ver alguém lá de cima do palco te fazer concluir que o mundo não é monocromático, nem insosso, inodoro ou incolor como querem que você pense. Você não apenas pode ser diferente, mas tem o direito de IMPOR como características produtivas o que lhe impõem como defeitos.
Assistindo ao video da melhor faixa desse álbum ("I don't wanna be me"), você pode se perguntar: quem eu sou e quem eu quero ser? Enquanto acompanha o imbecilóide protagonista mostrando ao mundo que, de perto ou de longe, NINGUÉM é "normal"...

Só que essa maldição vai continuar assombrando todos que não tiverem maturidade ou cérebro para se defenderem. Sou alto demais? De menos? Branco demais? De menos? Tenho que entrar na onda, ir aos lugares badalados, ouvir o que todo mundo ouve, assistir  o que todo mundo assiste, me parecer com o bombado do jiu-jitsu, com a piriguete que dança no palco? Vão falar do meu cabelo, da minha roupa, do meu gosto musical, dos meus hábitos de leitura? Tenho que ser aceito, ser enquadrado, pertencer à religião certa,  ser... pop?
Fica a seu critério. Cada um nasceu com seu próprio fardo, e o carrega como acha que deve.

Podre é apontar o dedo e rir de quem não se porta como você ACHA que deveria. E é aí que PETER STEELE faz diferença (e muita falta) , com essa cara de quem está se importando muuuuuuito com o que pensam...

Em uma de suas últimas aparições...




música para reflexão: qualquer uma do "Type O Negative"