quarta-feira, 30 de julho de 2014

Nós. . . a "Geração X"



não tem grana, não tem como fazer... dá-se um jeito! Headbanger DIY
Chamam de "Geração X" quem teve a felicidade de nascer entre os anos 60 e 70. 
Filhos de um mundo em mutação constante e instabilidade ainda maior, nessa época o seu local de nascimento e situação financeira falavam muito mais alto do que hoje. Isso porque o mundo era dividido entre "primeiro" e "terceiro". Quem tinha a sorte de nascer lá, estava perto de tudo... quem tinha sido desprezado pela cegonha e largado aqui, só se nascesse num bercinho marromeno pra poder ter acesso a um pouco do que o Mundo (com M maiúsculo) produzia...
Especialmente nas áreas em que este modesto blog tornou-se especialista. Tudo o que gostamos, de um modo ou de outro veio "de fora". Somos filhos da pouca grana e da maldita "reserva de mercado" - uma estupidez que vigora até hoje - o ato de encarecer absurdamente um produto gringo com impostos, para forçar o brazuca a comprar o lixão que se produz por aqui.
Mas "aqui" não tinha nada. Ou melhor, tinha muita cópia vagabunda do que tinha "lá"... Basta pensar que naquela época só existia uma única gravadora tida como brasileira - a mesma que cultuou preciosidades como chacrinha, roberto carlos, mpb... e que, além de tudo, era gerida pela rede de TV que ainda domina o país até hoje............deuses nos livrem!

Mas a Geração X nasceu quando tudo de melhor estava nascendo. Crescemos para conhecer ícones do Rock que começaram nos 60. Sabbath, Purple, Heep, Genesis, Yes, Floyd... a lista é longa. Poucos tinham grana para comprar um vinil (caríssimo para o grosso da população). A solução era comprar uma boa e velha fita cassete (já ouviram falar?) e pedir àquele amigo que tinha pais ricos, ou parentes no exterior, ou até que juntava meses pra comprar um bolachão, pra gravar a preciosidade na "fita virgem" para você. Geralmente as músicas vinham cortadas no final, já que a fita tinha 2 lados e nunca batiam com o tempo do disco. Mas nenhuma mídia da mais hodierna modernidade vai conseguir igualar a sensação de meter aquela fitinha no "gravador" (os mais abastados poderiam ter um "tape deck") - e ser transportado a um mundo tão diferente do seu, do outro lado do planeta, de onde vinham sons que moldaram nossa personalidade e gosto.
Prazer...fita cassete. 
Vimos surgirem os grandes de hoje. Através dos "fanzines" - que nada mais eram que xerox de folhas escritas à mão ou datilografadas em modernas máquinas de escrever (é um tipo de computador que vai imprimindo enquanto você digita...), sabíamos o que os  privilegiados traziam de outros países. O que se ouvia lá fora, quem estava bombando, os shows que jamais poderíamos assistir. Logotipos de bandas desenhados à mão, fotos mais do que borradas, faziam a nossa alegria e nos davam assunto quando íamos pra casa de alguém ouvir pauleira.
Rock Brigade, pioneira na divulgação do Heavy Metal no brasil.
E foi assim que testemunhamos bandinhas de garagem crescendo ou desaparecendo. Priest, Metallica, Maiden, Anthrax, Slayer, o poderoso Motörhead... tudo estava em efervescência, e a gente se empanturrava com as migalhas que nos eram repassadas! Tivemos a sorte de conhecer as excelentes bandas que não conseguiram chegar lá. Por isso estamos entre os poucos que bateram a cabeça ao som de Manilla Road, Omen, Cirith Ungol, Sortilège, Angelwitch, Riot, The Rods... caralho, a lista é ainda maior. E quase tão preciosa quanto...
ajudamos a espalhar pelo mundo "bandinhas novas" como essa...

Fomos os primeiros headbangers deste país. Enchemos botecos minúsculos para ouvir o som que nossos amigos faziam com seus instrumentos e equipamentos precários, tentando criar nossa Brazilian Metal Scene. E conseguimos. Que o digam Sepultura, Angra, e outros medalhões que vimos surgir tocando para públicos de - com sorte - algumas dezenas de fanáticos...

A moral da história é - hoje se tem acesso a tudo, o tempo todo, da maneira que se quiser. Não é preciso muito dinheiro para se entrar no Mundo com M maiúsculo. Um trabalhador que ganha salário mínimo tem um celular, acessa a internet, baixa vídeos, músicas, assiste a shows.
Se uma banda ligar uma guitarra do outro lado do planeta, você pode ouvi-la imediatamente.
Claro que isso é bom.
Mas para nós, nada se compara à Geração X e sua luta pelo conhecimento global.
Hoje criam-se ídolos aos milhares. Vídeos ridículos, programas patéticos, álbuns desprezíveis, acabam parindo "celebridades" instantâneas como miojo, e feitas para durar bem menos.
Os grandes da nossa época ainda estão por aí. E mais - seu público nasceu muito tempo depois deles estarem no topo.
Quando se vai a um show de uma sumidade como Lemmy ou Ozzy, a massacrante maioria não é de contemporâneos, mas de fedelhos que cresceram ouvindo o som que seus pais curtiam. Ou avós. Ou - melhor ainda - apenas usaram seu feeling para constatar que esse é o som verdadeiro, não o lixo enlatado que se produz hoje em dia.
Segurando as primeiras latas de cerveja brasileiras, esse milagre da tecnologia, fomos aos primeiros shows internacionais em solo brazuca. Vimos um excelente Rock in Rio de 1985 virar o esgoto musical dos dias atuais. Mas também estivemos em shows memoráveis que jamais serão igualados pela parafernália moderna.
E é por isso que, quando se tem o privilégio de assistir um Motörhead ao vivo, entende-se um pouco do que "era". Palco simples, equipamento simples, som nas alturas. Sem frescura, sem efeitos especiais. O bom, velho e eterno ROCK pesado (como chamávamos... e ainda gostamos de chamar).

Quanto a vocês, que a mídia chama de Geração Y, não pensem que temos inveja. Sim, curtimos tudo o que a tecnologia e o avanço científico forem capazes de criar (videogames principalmente...).
Mas nossos corações sempre estarão décadas atrás, como as boas Harleys, as máquinas de tattoo, a calça que enchíamos de patches de bandas, ou a fita VHS que registrou o show inesquecível. Tudo novo, mas com um sabor do mundinho em que nascemos, vivemos, e aprendemos a ser o que somos hoje...

Com sorte, você estará daqui um tempo escrevendo algo parecido sobre "os saudosos anos 90, ou 2000", em algum dispositivo eletrônico inimaginável nos dias de hoje.

Com sorte... porque esse mundinho anda meio esquisito...


porque tudo que é bom jamais envelhece... 





música para reflexão: pede pro teu pai - se ele for rockeiro - te indicar uma.

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