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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tá frio? Que tal uma CERVEJA..?

"Se cerveja só serve pra refrescar, como é que as melhores vem justamente dos países mais frios...?"

Pow! Na lata! (ou na garrafa, na pressão...). Mais uma que os "cervejeiros de churrasco" vão odiar. 
Em alguns lugares deste estranho país, estamos em pleno inverno. Sim - frio, baixas temperaturas, friaca! E, mesmo que na maior parte do Brasil as temperaturas estejam escaldantes, a folhinha diz que é inverno. E muitos dos meus amigos que só tomam cerveja no estilo "trincando" ficam meio desanimados para encarar uma "geladésima" nesta estação.
É uma pena que a grande maioria deles não vá com a cara dela. A deliciosa cerveja  BOCK !!!
Produzida desde o século 14 pelos alemães (deus os abençoe!), essa cerveja encorpada, escura, forte e ricamente saborosa chegou aos nossos tempos com algumas variações, que só tornaram o gênero ainda mais interessante. 
Dizem que o nome BOCK pode ter vindo de uma corruptela de Einbeck, onde foi criado esse tipo de cerveja. Outros ainda acham que é a tradução literal da palavra alemã (bode), contando uma historinha sobre a cerveja só ser produzida nos meses do signo de Capricórnio... whatsoever, tudo isso só serve para deixar a criança mais atraente - e os rótulos mais artísticos e criativos.
O fato é que hoje em dia temos a BOCK TRADICIONAL, que é mais leve e adocicada, com pouca adição de lúpulo e uma coloração menos escura (do cobreado ao marrom claro). Aroma maltado, tostado, pouco alcoólico (o teor fica entre 6 a 7,5%). Mas muito equilibrada, nem amarga nem doce demais. Algumas marcas podem levar Dunkel no nome, o que já é um indicativo de uma cerveja balanceada e que agrada a quase todos os (bons) gostos.
A HELLES ou MAIBOCK já leva o conceito lager um pouco além. Aparentemente surgiu para tentar tornar o estilo, digamos, mais refrescante, para aquelas estações mais quentes da Europa. Como diz o nome, é clara (vai de dourada clara a âmbar), mais marcada pela presença de lúpulo, o que dá um gostinho mais amargo, mas apenas ligeiramente, já que o sabor do malte é bem presente. Com graduação alcoólica semelhante à tradicional, o carbono é mais pronunciado, e a consequência é um sabor mais "picante", se preferirem. Algumas marcas, sinceramente, não parecem ser mais do que uma lager normal, o que confunde um pouco os menos atentos.
DOPPELBOCK é a parte sagrada da família. Historicamente criadas por monges (e quem mais?), as doppel são o verdadeiro "pão líquido" - por isso eram bebidas por aqueles dedicados e santos homens nas épocas de "jejum" (o jejum deles diz respeito a alimentos "sólidos"... tá de sacanagem? Ficar só enchendo a fuça de cerva é algum tipo de penitência?). Bom... enfim... essa maravilha já eleva o grau de alegria para até 12%, e sua coloração é mais ampla: pode ir do dourado escuro até aquele marrom avermelhado incrível. De cara, você nota que a espuma é bem mais consistente e cremosa. O aroma é frutado, às vezes até achocolatado. Já o gosto é mais alcoólico, e o lúpulo é pouco notado - o malte tem um tom levemente tostado, o que dá um aftertaste bem característico. Devido ao seu nascimento "santo", ela foi batizada de "Salvator" quando surgiu - mas esse nome acabou virando propriedade da cervejaria Paulaner. Assim, muitas doppel modernas são batizadas com algum nome que termine por "tor", pra familiarizar. Alguns exemplos são a Optimator, Celebrator, Bajuvator... aí fica mais difícil errar na hora de escolher.
Então temos a EISBOCK, e um paradoxo interessante. Para se produzir essa cerveja perfeita para se tomar no inverno, os mestres simplesmente pegam a doppel, congelam (daí o Eis = gelo), e removem essa camada de gelo, que carrega consigo grande parte da água da cerveja. O que sobra é um líquido muito mais concentrado, forte, e de espuma fina. Pode conter tons frutados, achocolatados, mas sempre sobra um sabor encorpado, um leve adocicado que se mistura ao álcool - o equilíbrio perfeito entre suave e forte. Característica da região alemã de Kulmbach, essa jóia pode passar dos 13% de graduação alcoólica... ou seja, bonita, gostosa, cheirosa - mas bate como força!
Bem, embora existam muitas "variantes das variantes" (já que os cervejeiros adoram fazer experiências), o básico sobre as BOCKS está (bastante) resumido aí. Não são cervejas "comuns", não servem para acompanhar aquela batata frita sebosa, ou aquela porção de algum prato típico sei-lá-de-onde. Os "entendidos"(?) vão dizer que elas harmonizam com esse tipo de carne, aquele tipo de massa - e até doces! Particularmente, acho que a experiência de beber uma BOCK é como saborear um bom expresso, ou um destilado fino: devagar, curtindo desde o aroma até o barulho da espuma, gole a gole. Logo se percebe que é bem difícil "encher a cara" com esse tipo de bebida - ela alimenta, satisfaz, é verdadeiramente uma refeição por si só.
O que fica depois é um aftertaste delicioso, que você não quer mais tirar da boca. JAMAIS deve ser servida na mesma temperatura de uma Pilsen e, dependendo do clima, pode perfeitamente ir para a caldereta na temperatura ambiente. É uma bebida para o inverno, mas que - como tudo que é muito bom - vai bem em qualquer estação!
PROSIT!




música para reflexão: "Black Bock", do Melvins.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um pouco de cultura...CERVEJEIRA! ((parte 1))

Nosso país é pródigo num bocado de coisas. Mas, se tem algo que foi muito mal formado no Brasil, com certeza foi a Cultura CERVEJEIRA! Alguns motivos podem até explicar esse fato, como a demora que a bebida sofreu para chegar ao Brasil, já que os colonizadores portugas morriam de medo de perder o mercado de vinhos... mas, por sorte, o rei Dom João (aquele) era fã do suco de cevada, e aos poucos a cerveja foi chegando pelos portos brasileiros.
Nas primeiras décadas de 1800, consumia-se no Brasil mais cachaça, licores franceses e, é claro, vinhos portugueses. As primeiras cervejas feitas por aqui eram rudimentarmente artesanais, feitas nas casas dos imigrantes: uma mistura estranha, feita de água, milho, e coisas como casca de limão, açúcar mascavo e gengibre. Daí um de seus primeiros nomes: gengibirra.
Divertida mesmo foi a "cerveja marca barbante" (nominho genérico para as primeiras engarrafadas que foram colocadas à venda). E por que o nome? O processo de fabricação era tão tosco, que a bebida adquiria um grau de fermentação fortíssimo, produzindo um monte de gás carbônico, e pipocando qualquer rolha com que se tentasse fechar a garrafa! Solução à brasileira: amarrar a rolha no gargalo com um barbante! Sim, amigos, uma versão MacGyveriana que virou sinônimo de improviso para sempre.
O que vinha de fora não era de se desprezar: cervejas inglesas. Mas o país recebia o restolho do restolho, um líquido grosso, sujo, envasado em barris, em viagens infindáveis de navio de um continente ao outro. Até que, mais no final do século, eles - os alemães - entram no mercado com uma cerveja mais clara, límpida, e... engarrafada! Finalmente havia uma certa concorrência de mercado - mas nesse ponto a Europa já produzia centenas de tipos de cerveja há décadas e décadas... pense no nosso atraso!
Bem, esse é um resuminho bem xongas de toda a história. Mas, se tem algo que se pode afirmar, é que ninguém sabe com certeza qual foi a primeira cerveja legitimamente brasileira, muito menos a cervejaria. Entretanto, os estrangeiros descobriram que o nativo gostava de uma bebida mais clara, fraca, fresca e - por que não, adocicada. E esse gosto varou os anos, solidificando-se na cultura gastronômica do país até os dias de hoje.
Se você vai num churrasco, numa festa, e servem bebida abaixo de extremamente gelada, você logo reclama? Expressões como "do fundo do freezer", "do cu da foca", "aquela lá de trás", são sempre ouvidas pelos botecos para que o desavisado garçom não traga uma cerveja que esteja "apenas" trincando? 
Pois é... aí chega-se em um distante vilarejo bretão e pede-se uma... o que? É, porque se você pedir "uma cerveja", o das bochechas vermelhas vai ficar te olhando com cara de conífera: "QUAL" cerveja, meu senhor?... ou, no mínimo, "QUE TIPO" de cerveja? Aí então só algumas palavras florescem na sua sedenta mente: "Brahma?"..."Antarctica?"..."gelada?"... "a que tiver, meu tio?" Shit, I'm in trouble...!!
Sim... nos principais países cervejeiros, a variedade de marcas e tipos beira o absurdo. Vários tons de cor, paladar, graduação alcoólica, densidade, cremosidade, e... consequentemente, a TEMPERATURA em que se serve o néctar. Em breve vamos abordar mais dessas minúcias (afinal, o livro vem aí...), mas sem besteirol técnico ou palavreado de químico - é pra dar uma idéia do que você pode esperar de cada uma.
Voltando às plagas brasilianas, podemos afirmar que a DEGUSTAÇÃO de cerveja é raríssima. Felizmente, cresce a cada dia, mas como um fenômeno de rebote tardio, trazido geralmente por gente que provou das "gringas" no estrangeiro, caiu de amores, e agora não consegue mais molhar o beiço numa dessas poucas que dominam o mercado nacional. Ainda felizmente, cresce muito no Brasil a fabricação artesanal, além das microcervejarias, trazendo variedade, criatividade e conhecimento a um público carente de "sabedoria". 
Bem, a grande maioria dos "bebedores", é claro, vai continuar alegremente como "cervejeiro de churrasco": o boi queimando no espeto, as mulé dançando um pagode, e o barrigudo de bermuda, havaiana e camisa do Framengu gritando lá da beira da piscina cheia de criança, lata vazia e mijo: "Aê, sangue bão, pega uma aí do cu da foca!!" E lá vem mais uma infeliz latinha, quase congelada, trazendo um resquício de um sabor que originalmente já era um resquício de uma cerveja de verdade...
Mas essa história não acaba aqui... 

PROSIT!




música para reflexão: "I wish you were a beer", do Cycle Sluts from Hell.


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