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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um pouco de cultura...CERVEJEIRA! ((parte 1))

Nosso país é pródigo num bocado de coisas. Mas, se tem algo que foi muito mal formado no Brasil, com certeza foi a Cultura CERVEJEIRA! Alguns motivos podem até explicar esse fato, como a demora que a bebida sofreu para chegar ao Brasil, já que os colonizadores portugas morriam de medo de perder o mercado de vinhos... mas, por sorte, o rei Dom João (aquele) era fã do suco de cevada, e aos poucos a cerveja foi chegando pelos portos brasileiros.
Nas primeiras décadas de 1800, consumia-se no Brasil mais cachaça, licores franceses e, é claro, vinhos portugueses. As primeiras cervejas feitas por aqui eram rudimentarmente artesanais, feitas nas casas dos imigrantes: uma mistura estranha, feita de água, milho, e coisas como casca de limão, açúcar mascavo e gengibre. Daí um de seus primeiros nomes: gengibirra.
Divertida mesmo foi a "cerveja marca barbante" (nominho genérico para as primeiras engarrafadas que foram colocadas à venda). E por que o nome? O processo de fabricação era tão tosco, que a bebida adquiria um grau de fermentação fortíssimo, produzindo um monte de gás carbônico, e pipocando qualquer rolha com que se tentasse fechar a garrafa! Solução à brasileira: amarrar a rolha no gargalo com um barbante! Sim, amigos, uma versão MacGyveriana que virou sinônimo de improviso para sempre.
O que vinha de fora não era de se desprezar: cervejas inglesas. Mas o país recebia o restolho do restolho, um líquido grosso, sujo, envasado em barris, em viagens infindáveis de navio de um continente ao outro. Até que, mais no final do século, eles - os alemães - entram no mercado com uma cerveja mais clara, límpida, e... engarrafada! Finalmente havia uma certa concorrência de mercado - mas nesse ponto a Europa já produzia centenas de tipos de cerveja há décadas e décadas... pense no nosso atraso!
Bem, esse é um resuminho bem xongas de toda a história. Mas, se tem algo que se pode afirmar, é que ninguém sabe com certeza qual foi a primeira cerveja legitimamente brasileira, muito menos a cervejaria. Entretanto, os estrangeiros descobriram que o nativo gostava de uma bebida mais clara, fraca, fresca e - por que não, adocicada. E esse gosto varou os anos, solidificando-se na cultura gastronômica do país até os dias de hoje.
Se você vai num churrasco, numa festa, e servem bebida abaixo de extremamente gelada, você logo reclama? Expressões como "do fundo do freezer", "do cu da foca", "aquela lá de trás", são sempre ouvidas pelos botecos para que o desavisado garçom não traga uma cerveja que esteja "apenas" trincando? 
Pois é... aí chega-se em um distante vilarejo bretão e pede-se uma... o que? É, porque se você pedir "uma cerveja", o das bochechas vermelhas vai ficar te olhando com cara de conífera: "QUAL" cerveja, meu senhor?... ou, no mínimo, "QUE TIPO" de cerveja? Aí então só algumas palavras florescem na sua sedenta mente: "Brahma?"..."Antarctica?"..."gelada?"... "a que tiver, meu tio?" Shit, I'm in trouble...!!
Sim... nos principais países cervejeiros, a variedade de marcas e tipos beira o absurdo. Vários tons de cor, paladar, graduação alcoólica, densidade, cremosidade, e... consequentemente, a TEMPERATURA em que se serve o néctar. Em breve vamos abordar mais dessas minúcias (afinal, o livro vem aí...), mas sem besteirol técnico ou palavreado de químico - é pra dar uma idéia do que você pode esperar de cada uma.
Voltando às plagas brasilianas, podemos afirmar que a DEGUSTAÇÃO de cerveja é raríssima. Felizmente, cresce a cada dia, mas como um fenômeno de rebote tardio, trazido geralmente por gente que provou das "gringas" no estrangeiro, caiu de amores, e agora não consegue mais molhar o beiço numa dessas poucas que dominam o mercado nacional. Ainda felizmente, cresce muito no Brasil a fabricação artesanal, além das microcervejarias, trazendo variedade, criatividade e conhecimento a um público carente de "sabedoria". 
Bem, a grande maioria dos "bebedores", é claro, vai continuar alegremente como "cervejeiro de churrasco": o boi queimando no espeto, as mulé dançando um pagode, e o barrigudo de bermuda, havaiana e camisa do Framengu gritando lá da beira da piscina cheia de criança, lata vazia e mijo: "Aê, sangue bão, pega uma aí do cu da foca!!" E lá vem mais uma infeliz latinha, quase congelada, trazendo um resquício de um sabor que originalmente já era um resquício de uma cerveja de verdade...
Mas essa história não acaba aqui... 

PROSIT!




música para reflexão: "I wish you were a beer", do Cycle Sluts from Hell.


\,,/

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A melhor cerveja do mundo...

A cervejaria belga WESTVLETEREN existe desde 1838. Sua maior particularidade é ter um dedo do todo-poderoso em suas atividades. Sim, porque ela funciona dentro de uma Abadia (a de Saint Sixtus de Westvleteren) e é exclusivamente tocada por monges.
Não é surpresa para os conhecedores que, entre as melhores cervejas do planeta, destacam-se as Trapistas. Esse povo gosta tanto de cerveja quanto de rezar (ou mais...), e, no decorrer de um longo processo, foram desenvolvendo técnicas cervejeiras únicas. Em parte porque, em tempos antigos, somente os mosteiros tinham ingredientes suficientemente bons para a produção de uma boa cerveja. Nas tavernas, o populacho bebia uma mistureba de restos de grãos surrupiados das colheitas, ou deixados como migalhas pelos donos das terras.
As Trapistas possuem uma característica distinta: são fortes, porém suaves. São o verdadeiro "pão líquido", já que sua consistência faz você se sentir "alimentado" com poucos copos.
Nossos tenazes monges (cistercienses, referência a Saint Sixtus) fabricam hoje 3 variações da sua Westvleteren: A BLONDE, que, como diz o nome, é clara. Mas, lembre-se que estamos falando de uma Trapista: nem tão clara, nem tão refrescante quanto suas congêneres, mas especialmente saborosa. Possui 5,4% de graduação, tornando a bebida leve, cremosa, mas com uma consistência diferenciada. Já a "Westvleteren 8", antes chamada "Extra", é a excelência da casa. Com 8% de graduação alcoólica, quase imperceptível no início, já que é tão frutada e agradável, pode facilmente tombar o bebedor incauto. Um pouco mais escura, quando na temperatura certa, forma um creme na superfície do copo que você poderia comer com colher. E então temos a "12", com seus acachapantes 10,2% de álcool. E aí percebemos a categoria dos bons e velhos monges, porque é uma cerveja suave ao primeiro contato, com um aftertaste amargo que complementa os tons frutados. Uma garrafa é o suficiente para despertar toda a alegria em você, a um ponto que poderia converter um ateu.
Estóicos como são, os rezadores dizem que só fabricam esses tesouros para seu próprio sustento. Somente 10 dos 26 moradores da Abadia estão envolvidos na produção. As garrafas são vendidas sem rótulos (identificadas apenas pelas cores das tampinhas), e desde o pós-guerra são produzidas as mesmas 60.000 garrafas/ano. Os preços (em euros) variam de 40 a 50 pela caixa com 24 preciosidades - mas o comprador tem que encomendar, e somente uma vez ao mês. Ao comprar, assume o compromisso de não revender (ah, tá...), impresso no próprio recibo.
O motivo do título deste post é que esses danadinhos já ganharam de organizações fodonas como a RateBeer, o título de "melhor cerveja do mundo" (no caso, a "12"). Já comentamos que gosto e... R.G...., cada um tem o seu. Mas essas agências procuram reunir bêb... digo... conhecedores e degustadores que analisam aspectos que o "bebedor ordinário" nem sabe que existem. E o néctar dos padrecos meio que atropelou suas concorrentes em todos os quesitos. 
Infelizmente eu AINDA não tive a chance de provar a "12" (tenho medo de querer me converter...). Mas fui agraciado com a "8" e a "Blonde" quando em Bruxelas, e - amigos e amigas - eu não me importaria de passar minha vida trancafiado num Mosteiro, se fosse pra beber essas maravilhas o dia todo. Amém.

(música para reflexão: "Disturbing the Priest", do Sabbath com Gillan.

"essa alegria tem motivo..."