domingo, 31 de julho de 2011

A quem pertence a sua vida?

O que é a morte? Existe algo depois dela?
O suicídio é justificável? Somos donos de nossas próprias existências, a ponto de encerrá-las quando quisermos?
Quem julga isso? Deus? Há um Deus? Ele existe e nos instrui... ou é o nosso medo e desespero que criam em nossas mentes a "esperança" de uma vida melhor após esta, de um ser bom e misericordioso que - se nos comportarmos conforme suas regras - vai nos proporcionar uma eternidade feliz em algum paraíso?

Questões como essas são a tônica da peça "THE SUNSET LIMITED", escrita pelo americano Cormac Mc Carthy e encenada pela primeira vez no ano de 2006. No mesmo ano virou livro e, felizmente, o autor colocou como subtítulo "A Novel in Dramatic Form". Digo "felizmente", porque foi esse subtítulo que me levou a comprar o livro, já que o título não me atraiu, e eu não havia visto a sinopse antes.
O livro já seria altamente recomendável, mesmo com uma levada que nem sempre é fácil. Muitas idas e vindas das argumentações levam você a voltar algumas páginas para relembrar certas idéias colocadas.
Mas aqui aconteceu um daqueles casos raríssimos - o livro virou filme, e o filme é brilhante!
Primeiro pela escolha dos personagens, dois monstros do cinema (e dos meus preferidos): Samuel L. Jackson, e Tommy Lee Jones - que também dirige a película.
O filme tem o mesmo título, e a trama é absolutamente fiel. Todo o enredo se passa no apartamento em que vive um dos personagens, emblematicamente chamado de Black (Jackson). Ex-presidiário, convertido em evangélico e pregador para bandidos e drogados, ele salva o professor White (Jones) de uma tentativa de suicídio, e o leva ao seu decadente apartamento, onde quer dissuadi-lo da idéia, além de tentar convencê-lo a abraçar a fé, a Bíblia, a igreja, o pacote todo. Black tranca a porta e recusa-se a deixá-lo ir enquanto não mudar de idéia sobre o suicídio.
White é um ateu convicto. Pragmático, realista e amargo, tem a seu favor uma cultura superior, e rebate os argumentos fervorosos de Black com ironia, cinismo e uma dialética quase inatacável.
É um filme incrível para quem tem a mente aberta, não teme ver suas próprias certezas abaladas, e principalmente se dá o luxo de questionar. Black não é um pregador habitual. Disfarça bem seu fanatismo, ri quando White blasfema, e admite não crer em tudo o tempo todo. Às vezes parece até mudar de lado para tentar ludibriar o ateu. Já White começa com uma postura agressiva - quer sair dali e terminar o que começou. Mas, aos poucos, vai entrando no jogo do pastor e começa a debater, às vezes até parecendo ser solidário, mas nunca cedendo terreno. A grande sacada de McCarthy está clara: nada é totalmente preto ou branco. Nenhuma verdade sobre qualquer coisa é absoluta...
Quem vai vencer a peleja?
Não faz diferença. O filme é uma aula de filosofia prática. Verdades que herdamos dos nossos semi-selvagens antepassados, verdades criadas por nós mesmos, verdades universais inquestionáveis... todas elas sucumbem a uma única inevitabilidade: a morte. Se ela pertence a Deus ou a nós mesmos (como a própria vida), esse é um debate secundário.
Você vai achar surpreendente como um filme que se passa inteiro em um cenário de poucos metros quadrados, onde só duas personagens estão em cena, sem trilha sonora nenhuma, pode prender sua atenção e mexer com suas emoções, até o memorável desfecho.
Como eu sempre digo: não acredite em mim. Vá lá e assista. Você certamente vai sair no lucro.



música para reflexão: "Beyond the Realms of Death", do Judas Priest.

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2 comentários:

Erika disse...

Muito interessante, boa dica de filme e de livro. Agora, que baita coincidência que ontem, antes de ir dormir, a última coisa que li trazia uma temática e uma argumentação muito parecida com esta rs.

Conservado no ROCK disse...

Erika...
Eu realmente tenho visto e ouvido muita coisa nesse gênero ultimamente.
Não sei se foi coincidência ou não, mas parece que depois do lançamento de "ZEITGEIST", algumas mentes meio adormecidas deram uma despertada...

"Enlightened minds think alike"

Boa semana!

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