terça-feira, 3 de abril de 2012

A sua hora (também) vai chegar...

A Matemática é implacável. Neste caso, a Estatística. Quase não percebemos seus movimentos quando ligamos a TV ou lemos as notícias, e lá está a cota diária de crimes. Crescendo assustadoramente mais do que qualquer outro fenômeno social que conhecemos.
Não dá pra saber como, nem quando. Mas você vai ser assaltado no trânsito, furtado numa calçada, agredido ou assassinado no processo. Vai ter dados da internet roubados, seu carro abalroado por um motoqueiro sem habilitação ou um motorista bêbado. Vai sofrer violência sexual, abuso moral e coação. Vai ter seus impostos desviados. Vai ter sua casa furtada, ou assaltada, onde você será refém. Vai sofrer um sequestro, vai ter seu carro ou outro bem roubado.
Não adianta o quanto se sinta seguro, ou tome medidas para sua segurança. Os muros altos, o condomínio fechado, a cerca elétrica e as câmeras. O vigia na rua, o alarme nas portas e janelas. Não vai adiantar a medalhinha de são Bento, a bíblia aberta no salmo 91, as fitinhas do senhor do bonfim, o crucifixo, o buda, o pentagrama, a triqueta, a oração de são Jorge, a bênção ou o passe.
E, se isso é uma certeza estatística, é maior certeza ainda aquela que decreta que algum ente querido vai passar por isso também. É uma questão de tempo, até as linhas do gráfico se cruzarem.

Por que tanta assertividade no pessimismo? Pura Ciência. 
O crime cresce em proporções cavalarmente maiores do que a educação, o emprego, a segurança, o PIB, o progresso. E nós, os cidadãos antes chamados "de bem", somos cada vez mais impotentes e em menor número.
Isso por uma série de fatores, principalmente dois: antes de mais nada, o crime compensa SIM! E não apenas o cometido pelos políticos e grandes criminosos de colarinho branco, mas o crimezinho no varejo. Compensa furtar, roubar, matar, usando de maior ou menor barbárie para isso. E não adianta mais usar clichês do tipo: "cadê a Polícia"... essa raça valente e muitíssimo mal reconhecida está nas ruas, fazendo o que dá pra fazer. Nem todos eles prestam, mas os que merecem o título de honestos saem de casa todo dia, com suas contas atrasadas pelo salário ridículo, para defender a SUA vida e o SEU patrimônio. Com seus equipamentos ultrapassados, com seus comandantes nomeados por partidos e poderes excusos, com seu salário de merda, e principalmente, com a cara e a coragem. Mas eles dificilmente vão poder evitar que o crime atinja seu círculo de conforto - porque não são onipresentes. Neste exato momento, em frente ao seu PC, note, celular, ou o que quer que seja, se alguém invadir seu escritório ou sua casa, com uma arma apontada para você, de que vai adiantar ligar para o 190 (considerando que você consiga)?
Lembre-se: estamos falando em proporções. Quantidade X qualidade. O exército russo da segunda guerra era um bando de maltrapilhos mal armados, mal treinados, morrendo de fome, frio e medo. Mas, para cada russo que os nazistas matavam, apareciam outros dois, e mais outro, e outro, até que venceram pela superioridade numérica. Um policial é fruto de muito tempo de treinamento e preparo. Um criminoso é fruto da primeira oportunidade. A quantidade vence.
O que nos leva ao segundo dos dois fatores importantes: o crime não é fruto da superpopulação, mas cresce com ela. Um filho de uma mãe e um pai sem renda, ou miseráveis, tem uma chance "X" de conseguir seu próprio sustento de forma honesta. Já cinco filhos do mesmo casal dividem essa probabilidade. Multiplique então por 10 - número que não é raro nas famílias de baixa renda brasileiras. E então, vamos lá: você é o quinto de 8 filhos de uma mãe que ganha menos que uma miséria, e de um pai que ganha quase isso. Essa é uma hipótese até boa, já que as estatísticas mostram que, a essa altura, o pai já abandonou a mãe ou foi morto, o mesmo com o padrasto que virá depois dele. Você vai à escola, mas a fome, a falta de material escolar, o cansaço das noites mal dormidas em camas divididas com outras 3, 4 crianças, o stress das brigas em casa, tudo isso vai impossibilitar que você pelo menos entenda o que estão tentando te ensinar. Enquanto você pensa na geladeira vazia, a professora tenta lhe ensinar que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Você quer apenas jogar uma bola, de preferência de barriga cheia, depois tomar um banho e dormir numa cama limpa. Mas isso não vai acontecer, e você sabe.
No caminho para casa, você vê moleques da sua idade, com camisetas de times, bermudas e - armas. Eles fazem pequenos trabalhinhos para os "patrões" e conseguem sustentar a família. Não precisam ir à escola, não passam fome, e ninguém tem coragem de se meter com eles. 
Quando querem, fazem uma "correria": um assalto, um estupro, um sequestro. Por que não? É uma vida cheia de aventuras. Se os "hómi" prenderem, a idade ajuda. Vai pra uma casa onde velhos e novos conhecidos se encontram para planejarem novas "correrias" pra quando forem pra rua. E se morrer? Morreu, fazer o quê? Acabou a fome, a miséria, o sofrimento, simplesmente acabou essa tragédia que os ricos chamam de vida. O padre da igreja, o pastor do culto, o pai de santo do terreiro - ninguém coloca comida na sua barriga e na da sua família. Quem é que decide o que é "certo" ou "errado", então?
Seu filho vai para a escola e, no caminho, é abordado por "menores infratores". E em questão de segundos, ele é julgado e condenado à morte ali mesmo. Motivo? O celular que carrega, ou o tênis, ou quem sabe até a lancheira! Mas o "menor infrator" vai ser "apreendido", e "condenado" a passar um tempo convivendo com outros piores que ele, jogando bola, se drogando e brigando com os monitores. É a lei.
Se existe solução? Não, não existe. E por que não?
Porque não existe remédio gostoso e leve que cure doença grave. O crime é um câncer em metástase, e nós fingimos combatê-lo com chazinho, reza,  e "melhoral infantil". Faça as contas...
Não é necessário mais aprofundamento. Nem é necessário falar que o "usuário", esse pobrezinho que é apenas um doente, é quem arma o crime. É quem compra a bala que vai ser disparada bem no meio dos seus olhos, quando você demorar a soltar a sua bolsa Louis Vuitton. O "inocente baseadinho" que o "usuário" enrola está ajudando a manter mais crianças fora da escola - e nas mãos do tráfico.
A esmola que você dá pro coitadinho no semáforo vai pras mãos do vendedor de crack. E quando a esmola não der, o "doente usuário" vai arrancar sua cabeça, se isso lhe render mais uma pedra. 
Então, como fugir dessa Estatística?
Já lestes Dante? Mais precisamente o "Inferno"? Então, "abandone todas as suas esperanças"...
Porque, enquanto você perdeu seu tempo lendo este texto, mais alguns "menores infratores" foram fabricados, ou estão em processo de fabricação. Nenhum policial foi formado nesse tempo. Nenhum juíz. E Frank Castle só existe na ficção. De real sabemos que novas leis afrouxarão mais as punições, mais e mais direitos serão dados aos nossos algozes. 
Tudo isso enquanto nos agarramos à nossa "fé", erguemos o muro, reforçamos a tranca, pagamos o vigia, metemos o pau na polícia, e achamos lindo quando vemos uma menina de 14 anos, sem sustento nem companheiro, aparecendo grávida. 
Quais as chances de seu lindo bebê escapar das estatísticas?


E as nossas, quais são?









música para reflexão: "Violent Crime", do Disorder.

5 comentários:

Anônimo disse...

Morri.
Lendo esse fado.

A realidade é tão deprimente que me parece melhor viver iludido...

ValLindinha disse...

Assustadoramente real

unter null disse...

E o que te motiva a continuar nesse inferno?

Antigamente eu entrava no blog da Mel para escutar música, agora venho aqui! Estou conhecendo muito som bom no seu blog.

Clarissa disse...

Eu já fui "da paz", já achei que tinha que descriminalizar maconha, já fui a favor de direitos humanos.
Hoje eu to vendo que TUDO ESTÁ PIOR e ninguém está nem aí. Todo mundo preocupado em sobreviver, foda-se quem morreu, foi assaltado, estuprado, sequestrado...
Minha opinião hoje é: quanto pior, melhor. Sabe porque? Porque uma hora vai ficar tão insuportável a vida, que vai haver um consenso e vamos começar a fazer a "faxina" direito. Pena de morte, campos de concentração, exílio na lua, não interessa. O que existe hoje não vale pra nada. O texto diz tudo: MINHA HORA VAI CHEGAR TAMBÉM. Não tem como escapar - trancado em casa, na igreja, na delegacia... vamos todos ser vítimas dos criminosos.
E eu pergunto: qual a finalidade de um "ser" que já matou e roubou várias vezes? Ele vai se recuperar e ser cidadão de bem? Vai trabalhar 8 horas por dia pra ganhar salário mínimo, e viver pacificamente? E o estuprador, esse animal nojento, tem conserto? SE VOCÊ ACHA QUE SIM, LEVE PRA SUA CASA! EU QUERO TODOS MORTOS!

Milhões de parabéns pela clareza e honestidade da crônica!

Eliomar ou Eviliomar disse...

incrível! Alguém que tem as manhas de falar a verdade que ninguém quer ouvir.
Aposto que o blog vai perder um monte de leitores (aqueles do tipo avestruz que correram enfiar a cabeça num buraco e fingir que nunca vai rolar com eles).
Mas eu, que caí aqui sem querer, JÁ VIREI SEGUIDOR.
O blog confirma minha tese: nós roqueiros somos os mais ligados, atentos, bem humorados, e quando precisa engajados!

Valeu CONSERVADO NO ROCK!