domingo, 9 de outubro de 2011

Crônica da estupidez humana...


Eu sempre quis comentar algo sobre esse filme que eu acho estupendo. Mas toda vez que eu começava a escrever, acabava derrapando para o lugar comum: descer o pau no ser humano por suas imbecilidades, em especial, a guerra.
Então, nesse blog aqui eu vi a melhor crítica que já se fez sobre o aclamado "Vá e Veja", filme de 1985 com o título original de "Idi i Smotri". Não foi sucesso comercial, e só agora saiu em DVD. Isso porque não é bonitinho, coloridinho, cheio de galãs e gostosas, nem tem trilha sonora dançante. Seu mérito é ser cru, e absurdamente realista. Não é indicado para quem vê o mundo em cor de rosa. Mas quem quer aproveitar o tempo em que está neste planeta para refletir, pensar, e tentar melhorar como habitante desta enorme casa, não pode deixar de ver.
Agora, esqueça as minhas baboseiras e leia o excelente comentário que eu citei:


"O começo não é promissor. O filme se passa numa terra distante, numa época distante, sem destaque no meio das imagens-símbolo da Segunda Guerra Mundial. Contudo, é simplesmente o melhor filme que eu já vi. De todos os mais de quatrocentos clássicos aos quais assisti desde que comecei a me interessar por cinema, esse é simplesmente o único para o qual não há crítica. Posso apenas comentá-lo, apenas observá-lo de longe e admirar sua honestidade.
Não há enredo no filme. Tudo se desenrola de forma onírica na Bielorrúsia de 1943, onde o menino Florya quer se juntar ao movimento de resistência local contra os nazistas. A obra, entretanto, não é sobre a guerra. É um estudo colossal de seus efeitos nas pessoas, e como os seres humanos podem ser sádicos, cínicos e assustadores. Quanto mais pessoas o protagonista encontra, mais ele se afunda (literalmente, inclusive, numa cena) na sujeira da guerra e da maldade humana, que vem à tona apenas no conflito.
Se eu tivesse apenas algumas horas de vida, escolheria assistir a esse filme. É um resumo perfeito de tudo o que eu acredito sobre a humanidade, é natural portanto deixar esse mundo com a mesma impressão de Florya, com a mesma revolta, e inclusive com a mesma impotência. Não há diferença entre nós, espectadores da odisséia desgraçada do menino, e ele próprio, que não pode fazer nada senão olhar em volta e se desesperar com os horrores que ele, infelizmente, viveu para presenciar.
Não houve para mim, até hoje, experiência mais verdadeira no cinema do que ver essa obra-prima. A última cena figura entre os tesouros mais preciosos (e amargos) já produzidos pela arte."
Guigo Klinkerfuss.



música para reflexão: "The evil that men do", do Maiden

2 comentários:

Erika disse...

Preciso ver este filme, é foda como parece que tem sempre alguém em alguma parte do mundo pensando a mesma coisa que a gente no mesmo momento! Ainda ontem fiz um "discurso" que passou do acalorado falando sobre estes mesmos aspectos da vida e dos seres humanos.Trazer estas coisas à tona é sempre complicado, depois as pessoas ficam com um olhar perdido, aquele silêncio profundo em volta, com cara de "deixe as minhas ilusões onde elas estão" e quem ousou falar a verdade, pensando se não seria melhor ter deixado as pessoas quietas, mas psicóloga é sempre assim, sempre mexendo com o que não deve(?) e desconstruindo! Oh, sina...

Conservado no ROCK disse...

Erika...

Esse sim é o verdadeiro "cutuca" - só que pouca gente gosta quando leva...

"Blame is better to give than receive"... como dizia o mestre.