domingo, 26 de junho de 2011

quando as idéias não correspondem aos fatos...

E cá estamos nós de novo. Dessacralizando o que a mídia considera sagrado. Cabeça exposta às pedradas. Mas com a satisfação do dever cumprido... NUNCA SEGUIR O REBANHO! Eis a historinha de hoje:

Agenor nasceu rico. Muito rico. Nasceu e cresceu no Leblon, passava férias na Europa desde criança. Seu contato com a realidade (ou seja, a pobreza) se dava pelos vidros escurecidos do carro em que o motorista da família o levava ao burguesíssimo Colégio Santo Inácio. Ali pelos meados de 1976, ganhou um carro zero do papai megaempresário por ter realizado a façanha de passar no dificílimo vestibular para Comunicação. Carro na mão, mesada no bolso, largou tudo e foi atrás da "galera do mal" do baixo Leblon. Envolvido com as substâncias "perigosas", papai preocupado o colocou para trabalhar como boy de luxo em sua empresa. Mas, ainda sem destino, foi enviado para San Francisco para fazer um curso de fotografia. Ato seguinte, voltou ao país natal (Rio) e, sem o menor perrengue graças ao paitrocínio, começou a se envolver seriamente com música e teatro.
Aí entra pra uma banda e papai, "relutantemente", acaba produzindo seu sucesso e o lançando aos píncaros do estrelato.
Seria a história de um Sidarta moderno se ele tivesse abandonado tudo e ido viver com a gente real, o povo de verdade que sustenta o topo da pirâmide social, e de seu suor e lágrimas cria a música mais autêntica que um país pode ter.
Mas Agenor preferiu pescar no seguro aquário do conformismo. Vivendo, como ele mesmo dizia, o Grand Monde, frequentando os frequentadores das colunas sociais em festas regadas a todos os excessos que só são permitidos quando se pode comprar o establishment, começou a fazer seu nome em divagações de protesto social, denúncia das desigualdades e palavras que, ditas por um autêntico proletário, até pareceriam verossímeis.
Entre um teco e outro, Agenor tinha devaneios de um mundo justo. Um mundo onde as pessoas pudessem ter o que ele tinha - sem que ele próprio tivesse que abrir mão da sua parte. Uma redistribuição da renda "dos outros", um moralismo da burguesia amoral, uma "ideologia" tortuosa, moldada nos bares e redutos da altíssima sociedade carioca, entre quilos de drogas trazidas dos guetos, do submundo onde jamais colocou os pés, onde a miséria molda a criminalidade, e o crime sustenta o vício dos riquinhos, levando as "substâncias do mal" diretamente às portas de seus condomínios de luxo.
 Viveu no excesso, morreu pelo excesso. Aos 32 anos, sucumbiu às complicações decorrentes da AIDS. E aí fez-se o turning point de sua história. Martirizado em público, exibido (e explorado) em programas de TV com seu corpo encarquilhado, fragilizado e já sem qualquer vitalidade, teve sua obra definitivamente consagrada. Foi alçado ao panteão dos "grandes poetas da MPB", e hoje é figura dogmática da crítica musical.
Cazuza foi um jovem rico, mimado, protegido, que - de dentro de sua bolha hermética no alto do castelo da corrompida e conivente high society brasileira, pretendeu cantar o mundo que via lá embaixo, na miséria. Foi mais nobre que Maria Antonieta, mas não pode ser colocado no mesmo pedestal de um Cartola. Dotado de boa cultura, colhida em excelentes escolas, era um razoável letrista - fato que pode ser notado apesar das musiquinhas fáceis que fazia pra tocar nas FMs. Mas dificilmente teria tantos "admiradores", tivesse ele nascido no mundo que tentou cantar, ao invés da piscina cheia de ratos que é o mundo dos tubarões da música, onde nasceu e foi criado...

Com papai "dono" da Som Livre, bolando uma ideologia pra viver...

música para reflexão: "Know your Enemy", do Rage Against the Machine.



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5 comentários:

Lalá disse...

Oi! Cheguei aqui por causa da Mel. Gostei do seu blog!
Sabe, interessante o seu post porque nesses últimos dias tenho pensado em coisas que tem relação. Graças a bolsas de estudo e ao sacrifício da minha família, tive a oportunidade de estudar numa universidade famosa aqui do Rio (aquela da Gávea) e vi muitos, mas muitos "cazuzas" por lá. É o tal do "QI" (Quem Indica). Impressionante. Quanto ao "verdadeiro", sempre achei muito "meh", realmente não entendo essa adoração toda.
Bem, escrevi mais do que pretendia, parabéns pelo blog, gostei das 'músicas para reflexão'.

Conservado no ROCK disse...

Lalá - o que "ainda" equilibra a balança é que, para cada cazuza, tem alguns como você.
Parabéns pela batalha. Never give up!

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Deveria estar estudando disse...

Adorei, realmente playba, mas apesar de tudo era um bom letrista e claro que não chega aos pés do Cartola.

Anônimo disse...

Finalmente achei alguém que não idolatra esse playboy de m*. Sempre achei isso que tu falou, fácil cantar a piscina cheia de ratos, difícil é admitir que você é um deles e nunca fez p* nenhum em prol dos outros. Abraço. (mais uma mocinha que veio do blog da Mel =)

Anônimo disse...

p*, esse blog é foda, só falta a galera certa descobrir.