porque cabelo ruim é coisa de povo amaldiçoado... |
Os recentes
acontecimentos envolvendo o pseudo-representante-de-deus cujo nome não tenho a
menor vontade de invocar me fizeram concluir que, em pelo menos uma coisa, estou
certo: a humanidade, como um todo, está condenada.
Isso.
Condenada, como em “doomed”, acabada, destruída, estraçalhada. Toda a ideia de
sociedade, convívio social, essa utópica balela idealizada ainda nos tempos das
cavernas, hoje se sustenta sobre aparências e mentiras.
E já vou
direto ao ponto: essa anedota de ser humano travestida de representante de deus
não seria tão grande ameaça – se não houvesse a figura principal: o idiota que
o elegeu para nos representar. E não adianta dizer que ele não te representa,
porque SIM, ele representa. E você paga desde os lacaios que o servem até a
chapinha que ele diligentemente refaz a cada semana.
Não quero
entrar no mérito do que você crê (ou deixa de crer). A religião, por si só,
serve mais para desunir e incitar a belicosidade do que para unir. Seja ela
qual for. O simples fato de existir uma “vertente”, uma “denominação” já estraga o
plano todo do “religare”, a reconexão
com o que se supõe ser sagrado (a ideia primeva das religiões). Se todos nós nascemos no mesmo planeta e pelas
mesmas vias (direta ou indiretamente), e se por acaso estivermos sob os
auspícios de algum poder superior, este será soberano e – em última análise –
imparcial. Se você reza, ora, conjura, decreta, ritualiza... para este deus,
aquele, aquela entidade, aquele poder... pouco interessa.
Quando um
avião cai, não sobrevivem apenas os que seguem ao “deus certo”. Todos sofremos, todos padecemos, todos
morremos. E o que acontece depois está restrito ao ramo da suposição, do palpite – não interessa
como você chame.
O que vale
mesmo é o AGORA! E neste vago momento que chamamos de presente, temos um
mentecapto que foi alçado ao poder por mentes tacanhas e estúpidas. Seres que
passam a vida pensando que podem fazer de tudo porque sua “oração” vai protegê-los
dos males, do demônio. Aos gritos, em lágrimas, enchem seus corações e esvaziam suas carteiras atrás de "salvação".
Mas o único
demônio que existe está dentro de cada um de nós. O “pastor” em si não é mais
do que um grão de excremento. O que ele representa, sim, é aterrorizante. Ele
foi construído por uma ideia, uma crença, uma “causa”, se preferirem. Como se uma
pessoa com orientação sexual diversa da sua representasse um poder maligno. Como se
uma pessoa com a cor diferente da sua fosse um passo atrás da evolução humana...
O que me
aterroriza é pensar que até mesmo o próprio Hitler tinha um propósito "explicável" (dentro de sua insanidade) quando
determinou a extinção dos homossexuais: eles não procriariam, consequentemente
não iriam contribuir para o aumento do seu séquito nefasto de seguidores. O
mesmo com pessoas de raças que aquele animal considerava “inferiores”: elas
poderiam estragar a cor homogênea de seus bonequinhos e bonequinhas arianos...
Mas com o “pastor”, o ódio e a discriminação surgem apenas de palavras escritas por homens quase pré-históricos
em uma linguagem tantas vezes alterada por tradutores incompetentes ou
tendenciosos. E ali, tecendo essas palavras para fazer uma tapeçaria que lhe
sirva, o energúmeno se acha no direito de dizer que o “todo-poderoso” não quer
gays ou negros na terra. Que são amaldiçoados. Que deveriam ser extintos. Porque ele diz. E pronto.
Enquanto um
lacaio alisa seus cabelos horrendos, e outro cuidadosamente lhe arranca as
sobrancelhas desgrenhadas, ele escreve discursos que irá ler para seu cortejo
de acéfalos, aos gritos, emocionado. E – pior – eles entenderão como se uma
força superior estivesse dizendo esse amontoado de asneiras pela boca cheia de
postiços de alguém “enviado por deus”. Basta seguir suas palavras, e eles serão
salvos da pobreza, da doença, de tudo que o mundo pode trazer de ruim. Mesmo as
desgraças causadas por eles próprios e seus filhos, eles mesmos possíveis
assassinos, ladrões, estupradores, ou simplesmente pessoas de bem, honestas e
íntegras, que, por serem homossexuais, são jogadas na vala comum da maldade pelos ditames
do “pastor” que detém a verdade.
Este é o mundo
em que vivemos. Você e eu somos parte disso.
Como se a
minha segurança física, minha paz de espírito ou minha própria vida fossem de
algum modo ameaçadas por seres humanos com uma orientação sexual diferente da minha.
Ou a cor da pele... ou a própria opção religiosa. Não interessa no que você
acredita, para quem reze, peça ou conjure. Desde que você seja um cidadão de
bem, um ser que pensa em sociedade, que não fere e não deseja ser ferido, que
mal pode me fazer? Se esses seguidores do arauto do mal estiverem se afogando,
será que iriam recusar uma mão salvadora – se fosse a mão de um gay ?
Mas a culpa
não é do “pastor”. É de quem o colocou lá. De um coletivo acéfalo.
Hitler, Mussolini, Stalin, todos
foram legitimados pelo poder desse coletivo. Se ele agora está lá, no meio dos seus pares, foi porque o “povo” o colocou lá, à direita e à esquerda de todo o mal. Com exíguas
exceções, todos eles estão lá para cuidar dos próprios interesses, e jamais
irão se voltar contra um dos seus – pois não desejam o mesmo para eles
próprios, certo?
Toda
manifestação contrária é legítima, necessária e bem vinda. Mas nada vai apagar
o fato de que existe uma massa, um coletivo, um grupo – seja ele qual for – com
poder suficiente para colocar no poder qualquer facínora que, por acaso, caia
em suas graças.
Isso me faz
ter certeza de que a humanidade chegou a um ponto crucial. Fossem verdadeiras
as palavras daquele livro que consideram sagrado, já teríamos virado cinzas
fumegantes. Afinal, por muito, muito, muito menos, o "poder supremo" fez chover
fogo em duas cidadezinhas sacanas lá no meio do deserto, Sodoma e Gomorra. Que,
perto do que assistimos nos noticiários de hoje, seriam paraísos da paz, resorts da
tranquilidade e da boa vida.
Essa é a grande lição de Infeliciano.
Aliás, ele não
tem condições de ensinar nada a ninguém. Apenas nos serve de espelho
para que possamos ver o mal que está dentro de nós mesmos.
música para reflexão: "God hates us all", do SLAYER.