A grande virtude do movimento Grunge, que floresceu ali pela metade da década de 80, foi esculachar o mainstream de então, cheio de conjuntinhos ridículos e artistas medíocres. A música estava tão voltada para o aspecto visual, que até bandas respeitabilíssimas começaram a colorir suas roupas e empestear seus cabelos com aquelas melecas horrorosas. Então apareceram esses sujões, garotos maltrapilhos, desgrenhados, sofríveis como músicos - mas com um animus anárquico e revolucionário. Na contramão dos queridinhos das gravadoras, lotavam espeluncas cheias de garotos perdidos como eles, tocando suas guitarras distorcidas e gritando suas letras depressivas. Alguns dizem que o Grunge salvou o Rock Pesado. E talvez até possa ser verdade.
Mas esta não é a questão aqui. Mesmo porque, para muitos, o movimento se resume a bandas como Nirvana. E se eu for falar do real Grunge, tenho que começar com Mudhoney, TAD, Screaming Trees, e aquela que pra mim sempre será a melhor de todas elas: Soundgarden.
O assunto hoje é o senhor Edward Louis Severson III, um coroa que vai completar 47 em dezembro. Como quase todos, dono de uma infância pouco fácil, EDDIE VEDDER passou a maior parte dela acreditando ser filho verdadeiro daquele que era seu padrasto. Vivendo entre meio-irmãos e discos do THE WHO, ganhou uma guitarra aos 12 e nunca mais quis saber de outra coisa.
Aí vieram Bad Radio, Mother Love Bone, Temple of the Dog, e - finalmente - Pearl Jam! O "cara" havia encontrado "a banda". O resto é história. Uma história cheia de altos e baixos, de uma carreira musical que deu muitas voltas em termos de estilo. Da pauleira lascada à baladinha com banjos, Eddie e sua trupe fizeram de tudo. Na internet você vai encontrar toneladas de informações sobre o menino e sua obra.
Aqui hoje vamos só lembrar o Eddie que, diante dos fãs, passou de garotão loucaço a homem consciente. Lembro que, quando a gente via essa galera do Grunge, achava que ia todo mundo acabar na overdose, no suicídio ou no ostracismo mascarado dos programas ridículos (de reality show pra baixo, se existir). E - de fato - alguns até acabaram nesse rumo.
Mas Vedder conseguiu, em primeiríssimo lugar, um público cativo, que não apenas quer ouvi-lo cantar, mas também quer ouvir o que ele tem a dizer. Suas idéias liberais já fizeram muitas cabeças (quem não se lembra do "Acústico MTV" do Pearl Jam em que ele pega um pincel atômico e escreve "pro choice" no próprio braço?). Fez shows para arrecadar grana para a defesa de quatro adolescentes do Arkansas, injustamente acusados do assassinato de 3 crianças em 94, com base apenas no fato de que eram viciados em RPG de terror (nota: esta semana todos foram libertados, graças aos exames forenses financiados por Eddie e colegas como Johnny Depp). Lutou contra a fome, o desmatamento, a extinção de animais, o fim das guerras...
Apesar disso, muito pouco se fala de Vedder nas desgraçadas revistas de fofocas. Foi casado um tempão com uma namorada de juventude. Casou-se novamente e tem dois filhos. Declara-se ateu, e pensa que as religiões mais fazem mal do que bem. Ao contrário de outros ex-grunges que viveram suas vidas diante das lentes, o baixinho circula livremente - principalmente em eventos esportivos de que é fã.
Fala mansa, jeito tímido. Um cabeção para compor, tanto na banda quanto nos muitos trabalhos solos e participações com outros artistas. Fez a melancólica trilha do filme "Into the Wild", e até um disco solo com músicas feitas na guitarrinha havaiana...
Vou confessar que, apesar de ter quase tudo do Pearl Jam, não cheguei ao patamar de "fã" incondicional. Isso apesar de eles terem feito um dos melhores álbuns daquela década, o "Ten", um clip fodástico, que é o de "Jeremy" e uma das melhores montagens ao vivo que eu já vi - "Even Flow" (já assisti zilhões de vezes, sempre forçando as poucas cervicais intactas que me restam...).
Mas, quanto ao senhor Eddie Vedder, esse quarentão rockeiro, cabeludo, iconoclasta, e cheio de atitude (sincera, não palhaçada pra mídia!), certamente ele merece meu respeito, admiração e desejo de uma longa e produtiva carreira.
Eddie spoke in class today...
música para reflexão: "Even Flow", vendo o clip, que começa com Eddie dando bronca no iluminador e dizendo "essa porra não é um studi de TV, é um concerto de Rock - abaixe essas luzes", e termina com o melhor stage dive que eu já vi...