Eu sempre quis comentar algo sobre esse filme que eu acho estupendo. Mas toda vez que eu começava a escrever, acabava derrapando para o lugar comum: descer o pau no ser humano por suas imbecilidades, em especial, a guerra.
Então, nesse blog aqui eu vi a melhor crítica que já se fez sobre o aclamado "Vá e Veja", filme de 1985 com o título original de "Idi i Smotri". Não foi sucesso comercial, e só agora saiu em DVD. Isso porque não é bonitinho, coloridinho, cheio de galãs e gostosas, nem tem trilha sonora dançante. Seu mérito é ser cru, e absurdamente realista. Não é indicado para quem vê o mundo em cor de rosa. Mas quem quer aproveitar o tempo em que está neste planeta para refletir, pensar, e tentar melhorar como habitante desta enorme casa, não pode deixar de ver.
Agora, esqueça as minhas baboseiras e leia o excelente comentário que eu citei:
"O começo não é promissor. O filme se passa numa terra distante, numa época distante, sem destaque no meio das imagens-símbolo da Segunda Guerra Mundial. Contudo, é simplesmente o melhor filme que eu já vi. De todos os mais de quatrocentos clássicos aos quais assisti desde que comecei a me interessar por cinema, esse é simplesmente o único para o qual não há crítica. Posso apenas comentá-lo, apenas observá-lo de longe e admirar sua honestidade.
Não há enredo no filme. Tudo se desenrola de forma onírica na Bielorrúsia de 1943, onde o menino Florya quer se juntar ao movimento de resistência local contra os nazistas. A obra, entretanto, não é sobre a guerra. É um estudo colossal de seus efeitos nas pessoas, e como os seres humanos podem ser sádicos, cínicos e assustadores. Quanto mais pessoas o protagonista encontra, mais ele se afunda (literalmente, inclusive, numa cena) na sujeira da guerra e da maldade humana, que vem à tona apenas no conflito.
Se eu tivesse apenas algumas horas de vida, escolheria assistir a esse filme. É um resumo perfeito de tudo o que eu acredito sobre a humanidade, é natural portanto deixar esse mundo com a mesma impressão de Florya, com a mesma revolta, e inclusive com a mesma impotência. Não há diferença entre nós, espectadores da odisséia desgraçada do menino, e ele próprio, que não pode fazer nada senão olhar em volta e se desesperar com os horrores que ele, infelizmente, viveu para presenciar.
Não houve para mim, até hoje, experiência mais verdadeira no cinema do que ver essa obra-prima. A última cena figura entre os tesouros mais preciosos (e amargos) já produzidos pela arte."
Guigo Klinkerfuss.Não há enredo no filme. Tudo se desenrola de forma onírica na Bielorrúsia de 1943, onde o menino Florya quer se juntar ao movimento de resistência local contra os nazistas. A obra, entretanto, não é sobre a guerra. É um estudo colossal de seus efeitos nas pessoas, e como os seres humanos podem ser sádicos, cínicos e assustadores. Quanto mais pessoas o protagonista encontra, mais ele se afunda (literalmente, inclusive, numa cena) na sujeira da guerra e da maldade humana, que vem à tona apenas no conflito.
Se eu tivesse apenas algumas horas de vida, escolheria assistir a esse filme. É um resumo perfeito de tudo o que eu acredito sobre a humanidade, é natural portanto deixar esse mundo com a mesma impressão de Florya, com a mesma revolta, e inclusive com a mesma impotência. Não há diferença entre nós, espectadores da odisséia desgraçada do menino, e ele próprio, que não pode fazer nada senão olhar em volta e se desesperar com os horrores que ele, infelizmente, viveu para presenciar.
Não houve para mim, até hoje, experiência mais verdadeira no cinema do que ver essa obra-prima. A última cena figura entre os tesouros mais preciosos (e amargos) já produzidos pela arte."
música para reflexão: "The evil that men do", do Maiden
2 comentários:
Preciso ver este filme, é foda como parece que tem sempre alguém em alguma parte do mundo pensando a mesma coisa que a gente no mesmo momento! Ainda ontem fiz um "discurso" que passou do acalorado falando sobre estes mesmos aspectos da vida e dos seres humanos.Trazer estas coisas à tona é sempre complicado, depois as pessoas ficam com um olhar perdido, aquele silêncio profundo em volta, com cara de "deixe as minhas ilusões onde elas estão" e quem ousou falar a verdade, pensando se não seria melhor ter deixado as pessoas quietas, mas psicóloga é sempre assim, sempre mexendo com o que não deve(?) e desconstruindo! Oh, sina...
Erika...
Esse sim é o verdadeiro "cutuca" - só que pouca gente gosta quando leva...
"Blame is better to give than receive"... como dizia o mestre.
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