A cervejaria belga WESTVLETEREN existe desde 1838. Sua maior particularidade é ter um dedo do todo-poderoso em suas atividades. Sim, porque ela funciona dentro de uma Abadia (a de Saint Sixtus de Westvleteren) e é exclusivamente tocada por monges.
Não é surpresa para os conhecedores que, entre as melhores cervejas do planeta, destacam-se as Trapistas. Esse povo gosta tanto de cerveja quanto de rezar (ou mais...), e, no decorrer de um longo processo, foram desenvolvendo técnicas cervejeiras únicas. Em parte porque, em tempos antigos, somente os mosteiros tinham ingredientes suficientemente bons para a produção de uma boa cerveja. Nas tavernas, o populacho bebia uma mistureba de restos de grãos surrupiados das colheitas, ou deixados como migalhas pelos donos das terras.
As Trapistas possuem uma característica distinta: são fortes, porém suaves. São o verdadeiro "pão líquido", já que sua consistência faz você se sentir "alimentado" com poucos copos.
Nossos tenazes monges (cistercienses, referência a Saint Sixtus) fabricam hoje 3 variações da sua Westvleteren: A BLONDE, que, como diz o nome, é clara. Mas, lembre-se que estamos falando de uma Trapista: nem tão clara, nem tão refrescante quanto suas congêneres, mas especialmente saborosa. Possui 5,4% de graduação, tornando a bebida leve, cremosa, mas com uma consistência diferenciada. Já a "Westvleteren 8", antes chamada "Extra", é a excelência da casa. Com 8% de graduação alcoólica, quase imperceptível no início, já que é tão frutada e agradável, pode facilmente tombar o bebedor incauto. Um pouco mais escura, quando na temperatura certa, forma um creme na superfície do copo que você poderia comer com colher. E então temos a "12", com seus acachapantes 10,2% de álcool. E aí percebemos a categoria dos bons e velhos monges, porque é uma cerveja suave ao primeiro contato, com um aftertaste amargo que complementa os tons frutados. Uma garrafa é o suficiente para despertar toda a alegria em você, a um ponto que poderia converter um ateu.
Estóicos como são, os rezadores dizem que só fabricam esses tesouros para seu próprio sustento. Somente 10 dos 26 moradores da Abadia estão envolvidos na produção. As garrafas são vendidas sem rótulos (identificadas apenas pelas cores das tampinhas), e desde o pós-guerra são produzidas as mesmas 60.000 garrafas/ano. Os preços (em euros) variam de 40 a 50 pela caixa com 24 preciosidades - mas o comprador tem que encomendar, e somente uma vez ao mês. Ao comprar, assume o compromisso de não revender (ah, tá...), impresso no próprio recibo.
O motivo do título deste post é que esses danadinhos já ganharam de organizações fodonas como a RateBeer, o título de "melhor cerveja do mundo" (no caso, a "12"). Já comentamos que gosto e... R.G...., cada um tem o seu. Mas essas agências procuram reunir bêb... digo... conhecedores e degustadores que analisam aspectos que o "bebedor ordinário" nem sabe que existem. E o néctar dos padrecos meio que atropelou suas concorrentes em todos os quesitos.
Infelizmente eu AINDA não tive a chance de provar a "12" (tenho medo de querer me converter...). Mas fui agraciado com a "8" e a "Blonde" quando em Bruxelas, e - amigos e amigas - eu não me importaria de passar minha vida trancafiado num Mosteiro, se fosse pra beber essas maravilhas o dia todo. Amém.
(música para reflexão: "Disturbing the Priest", do Sabbath com Gillan.
"essa alegria tem motivo..." |
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